14 dezembro 2010

Poluir era sinônimo de progresso

Reno, Sinos e Gravataí
Toda vez que alguém fala em "ecochatos", eu penso: eis um conservador querendo justificar os crimes ambientais ou ganhar dinheiro sem limites. O crítico dos "ecochatos" acha que denuncia os lugares-comuns dos ambientalistas. Nada mais faz do que disseminar um clichê. Faz pouco, um deputado, que eu tinha por esclarecido, me disse que os ecologistas são contra o progresso e querem, no fundo, o imobilismo. Risquei-o do meu caderninho de admirações. O rio Reno atravessa seis países europeus. Mais de 60 milhões de pessoas vivem às suas margens. O Reno já foi uma cloaca. Era vítima da bandidagem industrial, cuja justificativa chantagista era criar empregos e produzir riquezas. Viana Moog escreveu um livro famoso: "Um Rio Imita o Reno". Era o Sinos. Não imita mais. O Reno, por pressão dos ecologistas, está bem mais limpo. O Sinos virou uma cloaca. O Gravataí morreu.

Poluir rios nos anos 1960 era sinônimo de progresso. Poluir rios em 2010 é coisa de gente inculta, desinformada ou gananciosa. De 32 cidades poluidoras do Sinos, parece que apenas uma tomou providências reais para poupar o rio. A bandidagem continua poluindo por ter certeza da impunidade. Seria preciso mandar o Bope, os blindados da Marinha e o Exército caçar esses matadores de peixes inocentes. Jogou resíduo no rio, cadeia. Jogou esgoto sem tratamento, cana. Direto para o presídio central. A tecnologia existente permite tratar todos os dejetos e evitar a poluição. Mas tem muita gente que não quer gastar. Alguns adoram chorar quando o dólar está baixo. Pedem ajuda. Nem sempre fazem a parte deles. Claro, claro, bem entendido, como se viu, não são todos.

Quem comete crime é bandido. Matar um rio é crime ambiental hediondo. Os sinos dobram pelo Sinos. As empresas fazem autocontrole. Enviam amostras para a Fepam. O lobo cuida do cordeiro. Um especialista me diz que resíduos de empresas chegam ao rio pelo esgoto cloacal. Por que não temos um Greenpeace gaudério? Quando vejo a mortandade de peixes, canto: "Que sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra". A limpeza do Morro do Alemão esta aí. Quando começará a limpeza do Sinos? Os obstáculos são os mesmos: politicagem astuta, "apoios mútuos", ausência do Estado, hipocrisia, controle de parte do território nacional por interesses privados poderosos e fora da lei e moradores que defecam e andam para a natureza. Afinal, tudo vai desaparecer no rio.

Sempre ouvi dizer que a população do Vale dos Sinos era uma das mais informadas e preparadas do Rio Grande do Sul. É para ver como as estatísticas podem enganar. Alfabetização não garante consciência social. Educação formal mais longa não é sinônimo de ética. A bandidagem ambiental pode ser formada por anônimos ou por CEOs. Sabem o que é? A nova maneira de designar o patrão. Ou o capataz. Não se pode dar mole para político que não trata esgoto, cidadão que polui e industrial assassino de rio. É cana! E multa pesada. Pau neles. A bandidagem só entende a linguagem da força. Nada de cela especial. Nem de direitos humanos. Tudo pelo direito dos peixes. O Sinos só tem um atenuante. O Gravataí é muito pior. Uau!

JUREMIR MACHADO DA SILVA | juremir@correiodopovo.com.br

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